sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Imunização artificial

A imunidade pode ser desenvolvida naturalmente, como vem sido referido ao longo do trabalho, ou então pode ser induzida. Existem assim dois tipos de imunização, a imunização activa e a imunização passiva.

Imunização activa:
Da imunização activa faz parte a vacinação. As vacinas surgiram em meados do século XVIII. Nessa altura existia uma forte ocorrência de varíola, que provocava várias mortes. Lady Mary Montagu, mulher de um embaixador inglês em Istambul, verificou que quando se introduzia liquido retirado de uma crosta de uma pessoa com varíola, o indivíduo já não contraía a varíola. Este método, surgido na China, era designado por variolação e foi importado para a Europa Ocidental e para os EUA. Foi então que Edward Jenner se debruçou esta doença, tendo dado os primeiros passos na descoberta da vacinação.

Jenner verificou que os camponeses que lidavam com vacas com varíola (cowpox – varíola das vacas), e que desenvolviam umas pústulas semelhantes às dos animais não contraíam a varíola. Assim o vírus causador de cowpox passou a ser utilizado em vez do vírus da varíola na técnica de variolação, uma vez que provocava um indica de morte muito inferior em relação ao outro vírus. Isto acontecia porque o cowpox tinha uma infecciosidade menor e porque a sua introdução no corpo humano através da pele em vez de ser inalado, permitia que o sistema imunitário tivesse mais tempo para desenvolver defesas eficazes que impedissem a multiplicação do vírus. Tanto Jenner como outros médicos europeus inocularam vários doentes. Nas primeiras inoculações eram utilizadas fragmentos de pústulas de cowpox e faziam-se directamente através da pele. Só mais tarde, durante o século XIX é que o processo dimensões maiores, fazendo-se a cultura de vírus (designada por vaccinia) na pele de bezerros, que eram depois utilizadas para inoculações. Esta técnica conhecida por vacinação iniciou-se em 1800 na América. Sabe-se que em 1805 Napoleão Bonaparte obrigou os seus soldados a vacinarem-se. Apesar da grande descoberta da vacina contra a varíola, só 170 anos mais tarde é que o vírus foi erradicado.
Para além de Jenner houve outros investigadores que também tiveram um importante papel na vacinação, como Louis Pasteur.

Foi Pasteur, que nos finais de 1870 estabeleceu a relação entre os microorganismos patogénicos e as doenças causadas pelos mesmos, e fez também experiências com culturas de bactérias. Em homenagem a Jenner, Pasteur deu o nome de vacina a qualquer preparação que contivesse um agente patogénico atenuado que fosse mais tarde usado para a imunização contra uma doença infecciosa. Em 1885, Pasteur desenvolveu uma vacina e tratamento para a raiva.
A descoberta da vacinação permitiu controlar várias doenças, sobretudo nos países industrializados, o que se verificou ao longo dos tempos, nomeadamente durante a 2ª Guerra Mundial, em que a mortalidade causada por várias doenças foi reduzida. No entanto, só após a 2ª Guerra Mundial é que se verificou a origem de novas vacinas, como a vacina para o sarampo e a rubéola. Para que as vacinas pudessem chegar a um maior número de pessoas foram criados a nível mundial programas de vacinação gratuitos.
Assim, as vacinas são substâncias que se encontram normalmente sob a forma de solução, e contêm agentes patogénicos mortos ou atenuados, que estimulam o sistema imunitário, sem no entanto se desenvolverem. Devido à sua constituição há a probabilidade, embora reduzida, de se desenvolver uma doença no indivíduo. As vacinas podem ser administradas por via oral, aplicação cutânea ou por injecção subcutânea ou intramuscular, e podem ser usadas em seringas com agulhas hipodérmicas ou em pistolas de contacto.
Após a administração da vacina verifica-se a ocorrência de uma resposta imunitária primária, havendo assim produção de células memória, que levam a uma melhor resposta caso o organismo seja de novo invadido pelo mesmo agente patogénico.
As vacinas podem provocar uma imunidade de duração prolongada, durando mesmo toda a vida, como por exemplo a vacina do sarampo, enquanto que outras necessitam ser administradas de forma periódica para reforçar a imunização, como por exemplo a vacina antitetânica. Este reforço da imunização deve-se ao desaparecimento das células memória ou a mutações do agente patogénico. Um exemplo de um agente patogénico que sofre uma elevada taxa de mutação é o vírus da gripe.
Existem três grandes tipos de vacinas, as vacinas inactivas ou inertes, as vacinas “vivas” atenuadas e as vacinas produzidas por recombinação genética:
Vacinas inactivas ou inertes, podem ser inteiras ou contendo fracções do agente infeccioso. Nas inteiras o agente bacteriano encontra-se inactivo, não podendo por isso multiplicar-se, no entanto, mantém as suas componentes e consegue estimular o sistema imunitário. Um exemplo destas vacinas é a VIP (poliomielite). As vacinas que contêm fracções do agente infeccioso podem possuir fragmentos virais fraccionados, toxinas naturais inactivas, antigénios provenientes das cápsulas de bactérias ou de vírus ou antigénios provenientes das membranas de bactérias. Um exemplo é a DTPa (difteria, tétano, pertussis acelular). As vacinas inertes são bastante seguras, contudo para estimularem uma resposta imunitária adequada têm de ser tomadas 3 a 5 doses da mesma, e mais tarde necessita de ser reforçada.

Vacinas vivas” atenuadas, contêm agentes patogénicos enfraquecidos, que quando são introduzidos num indivíduo multiplica-se sem causar doença, mas estimulando o sistema imunológico. Estas vacinas são bastante eficazes e só necessitam de ser administradas uma vez, à excepção das vacinas administradas oralmente. Alguns exemplos destas vacinas são a VAP (poliomielite), VAS, VAR, VASPR (sarampo, papeira, rubéola) e BCG (tuberculose). O seu uso é vantajoso uma vez que são fáceis de produzir e estão próximas do agente natural, mas há sempre a probabilidade, ainda que reduzida, do agente patogénico originar uma infecção perigosa.

Vacinas produzidas por recombinação genética, são produzidas a partir de técnicas da biologia molecular e da engenharia genética. Estas vacinas ainda estão um pouco em fase de experimentação, pois ainda não há certezas quanto à tolerância e se a resposta imunitária induzida é tão eficaz como no caso das vacinas isoladas. As vacinas produzidas por esta técnica intitulam-se por combinadas ou polivalentes e são designadas de acordo com o número de factores que possuem. Alguns exemplos destas vacinas são a DTP trivalente, DTP-Hib tetravalente e a DTP-Hib-VIP pentavalente.

Em Portugal as vacinas começaram a ser utilizadas a partir do século XIX e a primeira vacina a ser administrada foi a vacina anti-variólica, que chegou a Portugal dentro de um pequeno frasco e foi utilizada por D. Pedro, futuro imperador do Brasil, e pelo seu irmão. Só a partir de 1965 é que se desenvolveu um Programa Nacional de Vacinação (PVN), que contribuiu largamente para o controlo de vacinação e para uma maior prevenção de doenças, por parte de toda a população. Uma vez que este sistema é universal e gratuito, desde que foi posto em prática já foram vacinadas mais de sete milhões de crianças e vários milhões de adultos. Assim, foi possível eliminar e controlar muitas doenças evitando que estas atingissem a população ou que provocassem mortes.

Siglas utilizadas para a designação das vacinas:
Hib – vacina contra doenças invasivas por Haemophilus influenzae do serotipo b (ou Haemophilus influenzae b);
VHB – vacina contra a Hepatite B;
MenC – vacina contra a doença invasiva por Neisseria meningitidis do serogrupo C (ou meningococo C);
VIP (vírus inactivos) e VAP (vírus atenuados) – vacina contra a polimielite;
BCG – vacina contra a tuberculose;
DTPa (pertussis acelular) e DTPw (pertussis de célula completa) – vacina contra a difteria, tétano e tosse convulsa (pertussis);
DTPaHib (pertussis acelular) e DTPwHib (pertussis de célula completa) – vacina contra a difteria, tétano, tosse convulsa e doença evasiva por Haemophilus influenzae do serotipo b;
DTPaVIP – vacina contra a difteria, tétano, tosse convulsa e poliomielite;
DTPaHibVIP – vacina contra a difteria, tétano, tosse convulsa, doença invasiva por Haemophilus influenzae do serotipo b e poliomielite;
VASPR – vacina contra o sarampo, parotidite epidémica e rubéola;
Td (difteria em dose de adulto) e DT (difteria em dose de criança) – vacina contra o tétano e difteria;
VAS – vacina contra o sarampo;
VAR – vacina contra a rubéola;
T – vacina contra o tétano.

Para além das vacinas que fazem parte do plano nacional de vacinação há também outras vacinas que podem ser tomadas e que são recomendadas a alguns factores, como a vacina da gripe, as vacinas Menjugate, Meningitec e Neisyac, a vacina Prevenar e a vacina contra a febre amarela.
A vacina da gripe é recomendada a pessoas com idade superior a 65 anos, a doentes crónicos do coração, rins ou fígado, a pessoas diabéticas ou que possuam outras doenças que causem resistência a infecções. Esta vacina é comparticipada e normalmente é administrada no início do Outono.
As vacinas Menjugate, Meningitec e Neisyac são utilizadas com o intuito de prevenir infecções causadas pelo Meningococo C, especialmente da Meningite meningocócica. Estas vacinas são administradas aos 2, 4 e 6 meses e após os 12 meses apenas deve ser aplicada uma dose única.
A vacina Prevenar previne contra doenças invasivas como a bacteriémica, septicemia e a pneuminia bacteriémica. Esta vacina deve ser administrada aos 3, 5 e 7 meses de idade e após os 12 meses, duas doses com um intervalo de dois meses.
A vacina contra a febre-amarela deve ser administrada caso um indivíduo se deslocar para a África Central ou América do Sul e deve ser tomada pelo menos 10 dias antes de partir.
Apesar de possuírem muitas vantagens e de serem muito eficazes, as vacinas podem também ter alguns efeitos secundários como o inchaço, febre, dor e vermelhidão no local da injecção e mal-estar geral. Normalmente, estes efeitos duram apenas alguns dias.
Como já foi referido há vacinas que necessitam de ser reforçadas, contudo há que ter em atenção os intervalos de tempo que tem que decorrer para que se possa tomar um reforço de uma vacina já administrada ou para se tomar uma vacina nova:
Intervalos entre doses da mesma vacina – analisando o plano nacional de vacinação verifica-se que há várias vacinas que são administradas mais uma vez, este reforço da vacina é necessário para que o sistema imunitário desenvolva uma resposta eficaz. Quando o intervalo de tempo decorrido entre a administração da vacina primária e o reforço é superior ao que se encontra no PNV, não se verifica a redução do número de anticorpos, no entanto a interrupção do cumprimento do calendário vacinal requer que este seja cumprido depois, independentemente do tempo decorrido desde a última dose administrada. Quando o intervalo de tempo decorrido entre a administração das vacinas é inferior ao proposto no calendário vacinal, o que pode ocorrer devido a motivos epidemiológicos ou para se tomar uma vacina que não faz parte do PNV então, tem que se respeitar o intervalo mínimo entre as doses e a idade mínima de administração da vacina primária, o que se pode ver no quadro abaixo. No entanto, quando esta situação ocorre, pode provocar um enfraquecimento da resposta imunitária desenvolvida, por isso não se devem administrar vacinas entre intervalos de tempo muito curtos, para além disso pode também aumentar os efeitos secundários da vacina.

Intervalos entre a administração de vacinas de antigénios diferentes – as vacinas que contêm antigénios inactivos, não interferem com a resposta imunitária induzida por outras vacinas, por isso, podem ser administradas simultaneamente, antes ou depois de uma vacina que seja diferente, quer contenha antigénios vivos ou atenuados. No caso da administração de uma vacina diferente mas com antigénios vivos, é necessário ocorra um intervalo de pelo menos 4 semanas entre a esta e uma vacina viva administrada antes, isto porque pode ser comprometida e a eficácia das respostas imunitárias induzidas quer por uma quer por outra. Assim, duas vacinas com antigénios vivos diferentes devem ser administradas ou simultaneamente ou com um intervalo de no mínimo 4 semanas entre elas.

Intervalos entre a administração de vacinas e a prova tuberculínica – este é outro intervalo a ter em conta, uma vez que certas vacinas com antigénios vivos como a VAS e a VASPR podem interferir com a resposta à prova tuberculínica. Deve ocorrer um intervalo de pelo menos 4 semanas entre a administração entre estas vacinas e a realização da prova tuberculínica.

Apesar de serem muito eficazes e de evitarem muitas mortes, as vacinas podem originar alguns efeitos secundários normalmente passageiros, como dor, vermelhidão no local da injecção, edema, febre e mal-estar.
É necessário também antes de se administrar uma vacina ter em atenção às doenças, sintomas ou alergias que o doente possa ter, pois existem vacinas que não podem ser administradas se o doente possuir determinadas doenças ou alergias.


Imunização passiva:
Por outro lado, a imunização passiva é constituída pela administração de anticorpos, que são retirados do plasma de indivíduos que já estiveram em contacto com um determinado antigénio, ou mesmo de animais que também já estiveram em contacto com ele. Este tipo de solução e que contêm anticorpos são designados por soros ou soros imunes. Os soros são administrados quando um indivíduo é invadido por um antigénio com uma rápida acção destrutiva sobre o organismo, e o organismo não consegue reagir de uma forma tão rápida. Estes soros têm uma acção temporária, uma vez que não são produzidos pelo indivíduo, e a degradação dos anticorpos ocorre em algumas semanas, e após a diminuição dos níveis do soro termina a imunidade. Para além disso a administração destes tem que ser controlada, pois só pode ser utilizado num número limitado de infecções, uma vez que esta técnica pode ter alguns riscos, como a introdução de certas substâncias, como proteínas do citoplasma do indivíduo dador.
Existem diversos tipos de soros que podem ser heterólogos, homólogos ou homólogos específicos:
Soros heterólogos – têm origem animal e podem ser anti-diftérico (SAD), anti-botrópico, anti-crotálico, anti-elapídico, anti-aracnídeo, anti-escorpiónico, anti-tetânico (SAT), anti-rábico (SAR) e anti-toxina botulínica. Estes contêm anticorpos específicos que são obtidos do citoplasma de animais, normalmente de cavalos, e possui níveis elevados do anticorpo pretendido. No entanto, a utilização deste tipo de soros causar reacções alérgicas nos seres humanos.

Soros homólogos ou Imunoglobulina padrão – tem origem humana e é constituído por uma combinação de várias imunoglobulinas de diferentes dadores, o que constitui uma vantagem, uma vez que contém vários anticorpos específicos para diferentes antigénios. No entanto é condicionada pelo predomínio local de infecções e imunizações, ou seja, os dadores que provêm de regiões onde não há vacinação contra um determinado antigénio ou onde não haja exposição a determinada doença, com certeza terá níveis de anticorpos baixos contra essa doença.

Soros homólogos específicos ou Imunoglobulina hiperimune – tem origem humana e é utilizada contra a varicela, hepatite B, tétano, hepatite A e raiva. É formado por elevados anticorpos provenientes de indivíduos que apresentavam elevados níveis do anticorpo desejado no seu plasma, o que era conseguido através de estimulação imunológica ou mesmo por aquisição natural. O uso deste tipo de soros é bastante vantajoso uma vez que para além de conter um número elevado de anticorpos, apresenta também uma probabilidade mais baixa da ocorrência de reacções alérgicas. É também recomendado o uso de soros homólogos específicos porque há uma menor probabilidade de causar anafilaxia e doença do soro, que normalmente ocorrem devido à presença da proteína equina. Uma desvantagem deste soro é que não pode ser usado quando um indivíduo é mordido por animais venenosos ou no caso de difteria, sendo necessário usar o soro heterólogo.

1 comentário:

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